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Comissão Estadual da Verdade realiza em Feira de Santana 1ª Audiência Pública

No início dos anos 1970, a ditadura militar sentia-se tão fortalecida e poderosa que prendia estudantes e militantes do Partido Comunista em Feira de Santana apenas para fazer treinamento em Salvador de interrogadores recém-recrutados, sem que contra os presos pesasse qualquer acusação. O depoimento é de um desses presos, o ex-deputado federal e ex-líder sindical Beraldo Boaventura, o quarto depoente na audiência pública que a Comissão Estadual da Verdade da Bahia realizou nesta quinta-feira (31) naquela cidade.

Entre os relatos de torturas, houve um de Celso Pereira e Sinval Galeão sobre um instrumento adaptado pela repressão em Feira de Santana: uma prensa de madeira de enfardar fumo, na qual dois ou três jovens eram colocados no local destinado ao fardo e espremidos até falarem ou desmaiarem. Depuseram ainda o juiz aposentado Antonio Pinto, irmão do ex-prefeito Chico Pinto, e familiares de Luiz Antonio Santa Bárbara, morto com Carlos Lamarca no sertão da Bahia em agosto de 1971.

Antônio Pinto traçou o perfil democrático da atuação de Chico Pinto, em todas as instâncias que atuou – vereador, prefeito e deputado – e o ato ditatorial que o depôs do mandato de prefeito, prendeu, processou e torturou. “Amigos e correligionários do general Juracy Magalhães solicitaram que apelasse para o presidente Castelo Branco para destituir e prender o prefeito Francisco Pinto. A ordem superior foi cumprida”, afirmou o juiz.

Beraldo Boaventura, que foi preso diversas vezes entre 1970 e 1987, por sua atuação política e sindical como diretor do Sindicato dos Bancários de Feira de Santana e do Sindicato dos Bancários da Bahia, preferiu focar a responsabilidade e participação dos civis nos fatos ocorridos durante o período da ditadura militar. “Se havia um psicopata torturando era porque havia uma rede instrumentalizando o psicopata para torturar. Quem mandou? Quem planejou o crime?” questionou.

Ao longo do dia, prestaram depoimentos Luciano Ribeiro, vice-prefeito de Feira de Santana, ex-vereador e ex-deputado federal, preso e torturado psicologicamente; Hosanah Leite, professor universitário, economista e ex-bancário que foi preso, torturado e impedido de exercer sua profissão de contador; Estevão Moreira, contador, preso e impedido de exercer sua profissão em Feira de Santana; Celso Pereira, advogado e presidente da Comissão dos Direitos Humanos da OAB-BA, subseção de Feira de Santana e Sinval Galeão, economista, estudante à época do golpe e presidente da Frente de Mobilização Popular pelas Reformas de Base.

Coordenada pelo sociólogo Joviniano Neto, a audiência pública teve cerca de 200 pessoas no auditório da Escola Modelo Luís Eduardo Magalhães, em Feira de Santana e com a presença de todos os integrantes da Comissão: Jackson Azevedo, Walter Pinheiro, Vera Leonelli, Amabília Almeida, Carlos Navarro e Dulce Aquino.

Convidado para a audiência, o bispo de Feira de Santana, Dom Itamar Vian, também vítima da ditadura, preso e torturado, ressaltou a importância do resgate histórico que está sendo feito pela Comissão porque tem constatado que grande parte dos jovens não sabe o que aconteceu e se comprometeu a trabalhar para que a realidade histórica seja conhecida.

Fonte: SECOM/BA