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IDH brasileiro para de avançar, e país mantém 79ª posição em ranking


O Brasil deixou de avançar no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) em 2015, mantendo o mesmo indicador e posição no ranking global se comparado ao ano anterior.

Entre 188 países avaliados, o relatório das Nações Unidas divulgado nesta terça-feira (21) coloca o Brasil na posição 79ª, a mesma de 2014, e ao lado da ilha caribenha de Granada.

Essa é a primeira interrupção no crescimento do IDH brasileiro desde 2004. O índice, elaborado com base em dados de saúde, escolaridade e renda da população, vinha crescendo desde então –com aumento de 8,6% no período.

 Em linhas gerais, quanto mais próximo de 1 estiver o IDH, melhor o desenvolvimento – em 2015, o IDH brasileiro foi de 0,754, o mesmo do último ano analisado.

O número leva em consideração uma expectativa de vida no país de 74,7 anos, 15,2 anos esperados de escolaridade, média de estudo de 7,8 anos (para população acima de 25 anos) e renda nacional bruta per capita de US$ 14.145, indicador que apresenta queda em relação a 2014, reflexo da crise econômica -antes, era de US$ 14,858.

 

Em comparação aos demais países, o Brasil se coloca em um grupo de 16 países que mantiveram o mesmo IDH. Outros 159 aumentaram e 13 diminuíram.

“Ele não melhorou no índice, e nem melhorou nem piorou no ranking. Isso nos chama a atenção. É uma luz amarela, um alerta para olhar e ver o que precisa ser feito”, afirma a coordenadora do Atlas do Desenvolvimento do Pnud no Brasil, Andrea Bolzon.

Para ela, os dados preocupam. “Se olharmos a série histórica, vemos um aumento ininterrupto. O que aconteceu que paramos de crescer?”, questiona. “Se pretendemos ser um país de alto desenvolvimento humano, qualquer coisa que nos freie é preocupante”, diz.

Segundo ela, para 2016, a previsão até o momento é que não haja melhora no índice. “Esses dados são de 2015 e os dados de 2016 já sabemos que são ruins, devido à retração econômica. É difícil prever, mas certamente uma melhora significativa está fora de questão.”

Embora neste ano a metodologia tenha se mantido a mesma da análise anterior, a atualização das bases de dados dos países fez com que as Nações Unidas tivesse que recalcular as posições no ranking -com isso, o Brasil, que inicialmente ocupava a 75a posição na divulgação do relatório em 2014, passou a ocupar a 79ª após revisão dos dados.

Em comparação aos demais países da América do Sul, o Brasil ocupa a 5° posição, ficando atrás do Chile, Argentina, Uruguai e Venezuela.

 Já em relação aos Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o Brasil fica na 2° posição, atrás apenas da Rússia.

 

DESIGUALDADE

A desigualdade na distribuição de renda, saúde e educação entre os brasileiros continua a ter impacto negativo no desempenho do país no ranking.

Se considerado esse fator, o Brasil perderia 19 posições -é o 3o com maior queda no índice, junto com Coreia do Sul e Panamá, e atrás somente do Irã e Botsuana, de acordo com o relatório.

Assim, se no IDH a nota do Brasil é de 0,754, o indicador cai para 0,561 devido à desigualdade, sobretudo de renda.

Para Andrea Bolzon, os dados mostram a necessidade de investir em políticas públicas. Ela cita como exemplo os dados do Pnad, que mostram aumento na pobreza entre 2014 e 2015 no país e altas taxas de desemprego. “Ao mesmo tempo, começam a aparecer alguns sinais de que a economia está retomando. Essa retomada é importante, mas tem que ocorrer de forma que beneficie todas as pessoas”, afirma.

Segundo Bolzon, a representação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) tem acompanhado as discussões sobre a reforma da Previdência.

“A reforma parece necessária, pois há questões que precisam ser melhoradas para que o sistema seja mais junto. Mas é preciso ter um olhar atento para as pessoas com maior vulnerabilidade, para que não sejam penalizadas”, afirma.

 

GÊNERO

Outro destaque no relatório é o índice de desigualdade de gênero, que avalia as diferenças na saúde reprodutiva, empoderamento e atividade econômica.

Nesse caso, o indicador passa a ter o valor de 0,414, ocupando a 92a posição entre 159 países.

A alta taxa de gravidez na adolescência e o baixo número de mulheres no Parlamento são alguns dos fatores que contribuem para esse baixo desempenho.

Enquanto na República Centro-Africana, país com menor IDH do mundo, o percentual de mulheres no Parlamento é de 12,5%, o Brasil tem apenas 10,8%.

O relatório traz ainda outros indicadores que evidenciam essa desigualdade. A renda per capita dos homens, por exemplo, é 66,2% maior que a renda das mulheres -nos demais países analisados, essa média é de 24%.

“Apesar das mulheres estudarem mais, elas ainda ganham menos do que os homens”, afirma Bolzon, em referência a dados que mostram maior média de anos de estudo e escolaridade entre as mulheres em comparação aos homens.

O Brasil, no entanto, também é citado positivamente no relatório por algumas iniciativas, caso da Lei Maria da Penha, citada como exemplo no combate à violência contra as mulheres, o Cadastro Único, que mantém dados sobre pessoas em situação de pobreza, e as ações para controle do zika.

 

GOVERNO

Em nota, a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto disse que os dados divulgados pela agência da ONU ilustram a “severidade da crise da qual apenas agora o país vai saindo” e que as transformações do governo Temer farão com que nas próximas edições do IDH o Brasil tenha melhores posições.

“Medidas como o controle das contas públicas, garantia dos gastos em saúde e educação, garantia do acesso à água por meio da conclusão do Projeto São Francisco, retomada do crescimento e do emprego se combinam para recolocar o país nos trilhos e criar uma realidade que logo será refletida nos indicadores internacionais”.

 

Fonte: Folha de São Paulo