70% das pessoas desaparecidas na Bahia em 2018 são de adolescentes
É desesperador para uma família saber que um ente querido sumiu sem dar qualquer tipo de notícia. São noites mal dormidas, tensão e muitas expectativas para aqueles que não têm mesmo um rastro de onde eles possam estar. Em 2018, de janeiro a novembro, segundo dados do Departamento de Proteção a Pessoa (DPP), órgão integrante da Polícia Civil, 345 pessoas desapareceram aqui no estado. Em 2017, o número de foi de 319, entre os meses de janeiro e outubro.
Segundo as estatísticas, este ano, 185 pessoas, do sexo masculino, deixaram o convívio familiar por alguma razão, contra 160 do sexo feminino. Do total geral (345), mais de 82%, ou 285 pessoas, são de pele parda. Outras 51 são de pele negra (quase 15%) e apenas 9, ou cerca de 3%, eram pessoas de pele branca. Com relação aos principais motivos que levam o indivíduo a cometer a atitude, 121 delas foram por conta de conflitos familiares, seguido de doenças e drogas.
Contudo, o que mais chama a atenção nos registros deste ano é a faixa etária a qual essa situação mais acontece: entre 12 e 17 anos, com 133 pessoas desaparecidas. No segundo lugar estão os indivíduos que tem entre 31 e 60 anos, seguidos daqueles que estão na faixa etária entre 18 e 30 anos (72 registros). Juntas, as pessoas acima de 60 anos e as crianças entre zero e 11 anos tiveram 34 casos de desaparecimento em 2018.
“70% das ocorrências envolvem adolescentes, dentro daqueles casos que chamamos de desaparecimento voluntário ou fuga do lar. Existe um conflito familiar que pode ser por uma questão de uma proibição de um relacionamento, da homossexualidade, de maus tratos ou de abuso sexual, que faz com que aquele jovem saia de casa e vá buscar outras coisas fora do ambiente. Pode acontecer de aquele adolescente estar envolvido com traficantes ou ser usuário de drogas”, destacou Heloísa Simões, titular do DPP, localizado no bairro da Pituba, em Salvador. Ela destaca que existe uma Lei Federal, a 11.259, que determina a investigação imediata em caso de desaparecimento de crianças ou adolescentes.
Já com relação aos idosos e indivíduos com doenças mentais, a delegada aponta que, neste caso, são enfermidades, como o Alzheimer, que os levam a “abandonar” o lar. “Eles tem aquelas ‘ausências’, se perdem, e acabam não voltando. A pessoa também pode surtar. Orientamos, neste caso, a que os parentes vão até aos hospitais, pois pode ter ocorrido algo com ele, uma vez que ele está em situação de risco. Mas, mesmo com a Lei não falando nada a respeito da pessoa com doença mental ou do idoso, nós aqui damos tratamento igualitário. Temos também uma ajuda muito grande através de grupos de Whatsapp, acionando os agentes da Polícia Militar que estão nas ruas, assim como os nossos grupos da Polícia Civil. Acionamos os grupos de serviço social dos hospitais para onde enviamos fotos para saber se não foi dada entrada”, pontuou.
TRABALHOS
Mas se por um lado a tensão toma conta das famílias quando um ente querido some sem dar notícias, o alívio surge quando os mesmos são encontrados e voltam para casa. E muito disso se deve ao intenso trabalho realizado pelo DPP neste sentido. Das 345 desaparecidas até agora em 2018, 325 foram localizadas, sendo 307 com vida, uma eficácia de quase 90% nos casos. Entre janeiro e outubro do ano passado, dos 319 indivíduos que sumiram sem dar notícias, 311 foram localizadas com vida (97,4%).
A titular da DPP, Heloísa Simões fez um breve histórico do órgão, criado em 2012 – a responsabilidade anterior, por essa questão, era da Coordenação de Polícia Interestadual (Polinter) e explicou como é feito o trabalho inicial dos agentes. Além disso, como forma de divulgar as ações, parcerias são feitas com instituições e visitas são feitas a repartições públicas e hospitais. Operações em conjunto com o Ministério Público e a Defensoria Pública do Estado também estão previstas.
“Em um primeiro momento, quando chega uma pessoa para registrar uma ocorrência, a gente faz uma pesquisa através de portais como o InfoSeg, para verificar o perfil daquela pessoa: saber se tem envolvimento com o crime, pois a pessoa pode ter um mandado de prisão e não estar desaparecido e, sim, foragido. Mas, Uma vez verificado que não existe nenhuma ocorrência envolvendo uma pessoa em uma situação de crime, a gente faz um registro e, a partir dele, gera um RBD, que é o Registro de Pessoas Desaparecidas”, comentou.
Outros mecanismos utilizados que são utilizados pelos agentes são o Sistema de Informações Proteção a Pessoa (SIP), um aplicativo de celular, e do site “Disque Denúncia” da Secretaria de Segurança da Bahia (SSP-BA): https://disquedenuncia.com/. Vale lembrar também que os números 3235-0000 (Salvador e Região Metropolitana) e 181 (Interior) podem ser utilizados por aqueles que possuem alguma informação sobre uma pessoa desaparecida. Há também o Whatsapp (71)99631-6538, mas que recebe apenas mensagens e informações pelo aplicativo.
Além das informações que a família puder dispor sobre o parente desaparecido, é importante que eles também possuam uma foto recente do indivíduo, o que pode facilitar as buscas. “Após a autorização formal, a gente publica aquela foto nas mídias institucionais, como a página do DPP no Facebook, que possui mais de 17 mil seguidores, é uma página que tem tido um resultado positivo, principalmente nas ocorrências que envolvem adolescentes, por que eles estão nas páginas das redes sociais”, afirmou Heloisa, salientando que muitos desses jovens, quando localizados, acabam retornando para casa por conta da exposição na página institucional ou, simplesmente, pelo fato de não conseguirem se manter fora de casa.
Ela desmistificou também um tema que constantemente faz parte das conversas de famílias que possuem um parente que sumiu sem dar notícias: é preciso esperar mais de 24 horas para dar uma queixa? “Não existe mais esse prazo. Mas, a gente orienta a população que, antes de procurar a Polícia, faça as buscas pessoais, verificando se, por exemplo, aquele jovem está frequentando a escola, que veja quem são as pessoas mais próximas, que veja se não está com um amigo mais próximo ou o namorado. Depois de feita esta busca, aí sim procurar a Polícia”, apontou a titular do DPP.
O QUE FAZER?
De acordo com o DPP, o primeiro passo a se fazer quando o ente desaparece é justamente manter a calma e fazer a busca no local do ocorrido. Em não obtendo sucesso, o familiar deve se dirigir ao Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), na Pituba, e levar uma fotografia do desaparecido, assim como um documento de identidade. Informações como sobre os últimos acontecimentos relacionados a ela também podem ajudar nas buscas. Por último, caso a pessoa seja encontrada, é importante informar imediatamente à Delegacia para que se proceda à baixa nas buscas daquele que estava sendo procurado.
Entre os principais cuidados a serem tomados para evitar que a situação aconteça, no caso das pessoas portadoras de necessidades especiais, a Polícia Civil orienta que elas não devem circular desacompanhadas e ter uma ficha de identificação contendo dados pessoais como endereço, telefone de sua residência, bem como da instituição onde realiza tratamento.
No caso das crianças, elas, mesmo acompanhadas dos pais ou de um adulto responsável, devem sempre portar uma identificação que conste, entre outros, nome completo, endereço e telefone para contato. Em locais públicos, ter atenção redobrada e não perder a criança de vista. Mas, caso ela se perca, combine antes um local de fácil acesso que funcione como ponto de encontro, além de orientá-la a procurar ajuda somente de seguranças uniformizados, policiais e salva-vidas.
Com relação a internet, a recomendação é a de que os pais verifiquem sempre com quem as crianças ou adolescentes estão conversando através da rede mundial de computadores. A orientação a eles é a de que nunca devem fornecer dados pessoais ou de familiares, assim como jamais marcar encontros com pessoas desconhecidas.
Fonte: Tribuna da Bahia