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Caderno ou celular? Escolas já preparam alunos para o Enem com uso de tecnologia

‘Sai desse computador, vai estudar para a prova!’ e ‘Guarda esse celular e presta atenção na aula!’ são reclamações que os jovens já ouviram muito, em casa e na escola. Mas será que a tecnologia precisa ser vista como uma vilã na hora dos estudos? Não mesmo. Ela é bem-vinda e já é realidade na vida de muitos estudantes, principalmente os que estão prestes a encarar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Claro, é necessário equilíbrio na hora de aliar tecnologia e estudos, mas ela tem sido cada vez mais benéfica para o processo de estudos. Com um celular em mãos, o estudante consegue organizar melhor seu tempo, lembrar de fazer as atividades no prazo correto e, de quebra, tirar dúvidas com os professores após deixar a escola. Prova disso é o uso da ferramenta Google for Education em escolas de Salvador.

Joaquim Camerino, líder de soluções educacionais da Safetec, empresa de tecnologia que é representante credenciada do Google no Nordeste, explica o que é essa ferramenta. “Ela oferece vários aplicativos. É um AVA (Ambiente Virtual de Aprendizado). Com essa ferramenta, os professores conseguem dar suporte ao aluno, além de aplicar exercícios e simulados de forma dinâmica”.

Ou seja, o professor pode, por exemplo, preparar um conteúdo especial para o Enem e passar como dever de casa para o aluno, sem que o estudante precise se limitar aos exercícios dos livros ou a buscar conteúdos de estudo por conta própria e sem orientação.

Os aplicativos do Google for Education mais usados para fins acadêmicos são o Google Drive, onde os professores podem disponibilizar simulados, apostilas, slides e conteúdos para toda a classe, e o Google Sala de Aula (ou Clasromm), onde é possível criar um ambiente similar ao da escola, mas de forma virtual. Ambos são gratuitos e exigem apenas a criação de uma conta no Gmail, que também é de graça.

Nessa segunda opção, o aluno, além de ter acesso ao conteúdo de estudo, passa a interagir com professores e colegas pelo celular ou computador. “Nesse caso, o professor pode criar um ambiente e oferecer todo tipo de conteúdo, que fica disponível o tempo inteiro para o aluno. O estudante pode tirar dúvidas com professores e colegas em um chat que é muito semelhante às redes sociais, mas é uma coisa voltada só para o estudo”, completa Camerino.

 

Realidade em Salvador

O professor de Química Luiz Alberto Amorim já implementou a tecnologia em salas de aula de três colégios onde dá aula para o Ensino Médio, em Salvador: Isba, Cândido Portinari e Favo (Cabula), além do seu curso particular, Química com Amorim.

Para ele, inovar em sala de aula é fundamental, já que o perfil dos alunos também muda com o passar dos anos. “As pessoas demonizam o uso do celular, mas é errado fazer isso. O aluno sabe usar, faz pesquisas dinâmicas e aprende muito mais, porque faz parte da linguagem deles. Temos um modelo tradicional da escola, que não é ruim, mas o aluno do século 21 tem outra velocidade, já não dá mais para usar os mesmos meios”, diz.

“A reação dos meus alunos, quando mando pegar o caderno, é uma. Quando falo para pegar o celular, é outra. Na aula, eles não ficam no WhatsApp. Temos um código de honra e que eles respeitam muito”, completa.

O professor também usa a ferramenta Google Agenda junto com seus alunos, onde disponibiliza as datas de todas as atividades que serão feitas. Segundo ele, o método é mais eficaz do que anotar em cadernos, já que os alunos podem perder os papéis. “Eles passaram a cumprir melhor os prazos, até porque recebem alertas de quando iniciará a atividade”.

Outra vantagem do uso da tecnologia nas escolas é que o professor, caso fique doente, não deixa a turma na mão. Recentemente, o próprio Amorim vivenciou essa situação, quando adoeceu e passou as atividades através do Google Sala de Aula. Segundo ele, o processo foi cumprido com êxito. “Também já teve caso de aluno que faltou, mas não perdeu a pontuação da atividade, porque fez pelo celular”, destaca.

Desde que começou a usar o Google Sala de Aula, Amorim percebeu que sua relação com os alunos melhorou. Além de falar a língua deles, como define, o professor passou a ter uma percepção melhor de quais são os alunos com dificuldade, quem faz as atividades, e quem atrasa na entrega do dever, que pode ser feito no próprio caderno, caso o aluno prefira. Neste caso, basta mandar uma fotografia.

Outra vantagem do uso da tecnologia, explica o professor de Química, é que o aluno passa a se sentir protagonista no processo de aprendizado. “Ele ganha mais responsabilidade e se sente valorizado também. O aluno faz os exercícios até na praia, se quiser. Tem um período para responder, mas ele que se organiza para, dentro daquele limite, fazer como quiser. Isso é bom para eles e para mim, pois me dá maior controle. Eu sei que o aluno que tem muito erro precisa de um acompanhamento mais próximo. E, além de provas e testes, que continuam existindo, faço atividades pontuadas lá também”, completa o professor, que usa a tecnologia há dois anos.

 

Alerta
Modernizar as ferramentas usadas no ensino é um caminho que tem dado muito certo, mas é necessário ter alguns cuidados. O vice-diretor do Grupo Anchieta, Ademilton Costa, conta que o colégio usa a tecnologia em sala de aula há pelo menos oito anos e como dribla possibilidades de dispersão do aluno.

“O uso do celular vem acompanhado de uma possibilidade de ferramentas, já que são muitos aplicativos. O maior risco seria o aluno acessar outros conteúdos, mas, para evitar isso, há alguns métodos. No Anchieta a internet é acessada com o Wi-Fi da escola, o estudante utiliza com acompanhamento e monitoramento. Claro, não extrapolando a individualidade dele, mas com o bloqueio do acesso a alguns sites e redes sociais”, explica ele, que também é professor de Biologia e adepto dos aplicativos do Google em sala de aula.

Ademilton explica também que os celulares só são usados quando o professor solicita e que o aparelho não pode ser considerado um inimigo da educação, “já que é apenas uma ferramenta, que como qualquer outra pode ser bem ou mal utilizada”. A estudante Maria Fernanda Barreto, 17 anos, concorda. Aluna do 3º ano do Anchieta, ela vai fazer Enem no fim do ano e acredita que o uso dessas ferramentas será importante.

“O professor disponibiliza o material e fica muito mais acessível. Ajuda também porque não precisamos mais anotar tudo, é muito menos trabalhoso e dá para assimilar melhor, porque muitas vezes a gente não consegue prestar atenção enquanto copia”, opina.

Ela, que pensa em cursar Veterinária, diz ainda que a otimização de tempo com o uso do aplicativo Google Sala de Aula é fundamental para quem está prestes a fazer o exame. “É como se fosse um grupo de WhatsApp, onde podemos mandar mensagens e arquivos. O Enem tem muito assunto, seria difícil pegar tudo e colocar num só lugar, aí o aplicativo ajuda nisso. É muito mais rápido na hora de estudar”, completa.

Também aluna da instituição, Beatriz Ferreira de Sá, 16, conta que usa a ferramenta há cerca de dois anos no colégio e já sente diferença. “É muito melhor, porque é muito mais natural para nós o uso do celular, é uma adaptação para a nossa realidade. Vai ser muito útil no ano que vem, quando eu fizer o Enem, por exemplo, porque ajuda a filtrar os assuntos que vamos estudar. O livro tem páginas e páginas, com textos que muitas vezes não são relevantes, então a gente perdia muito tempo”, relata ela, que cita ainda a grande economia de papel com o uso do aparelho.

Este ano, o Enem será realizado em dois domingos: dia 3 de novembro (Linguagens e Códigos, Redação e Ciências Humanas) e no dia 10 de novembro (Ciências da Natureza e Matemática).

 

Outras ferramentas
O Google trabalha com educadores para criar programas, aplicativos e dispositivos para o uso em sala de aula há 10 anos. Até o momento, segundo a assessoria de comunicação da empresa, são cerca de 20 milhões de usuários em todo mundo. O CORREIO solicitou, mas não há um levantamento sobre o número de adeptos no Brasil, na Bahia ou em Salvador.

Além dos aplicativos já abordados nesta reportagem, a empresa conta com os chamados chromebooks. “É tipo um notebook, mas a instituição controla a política de uso, então ela pode determinar as regras, quais aplicativos e sites os alunos poderá abrir. O bom é que, ao invés da escola ter que criar um laboratório de informática, os equipamentos chegam nas salas de aula e com total controle da escola sobre o que é acessado, diferente do computador convencional”, explica Joaquim Camerino.

Em Salvador, instituições de ensino superior, como a Universidade Católica do Salvador (Ucsal), também já utilizam o equipamento. Agora, o objetivo da Safetec é disseminar a tecnologia para colégios da rede pública de ensino. “A ideia é ampliar para os colégios públicos, estamos com esse projeto em mente. Queremos ampliar esse mercado”, diz Camerino. Apesar dos planos, não há ainda um período para que isso aconteça.

Especificamente para o Enem, o Google oferece ainda o canal YouTube Edu, com vídeo-aulas para complementar os estudos.

Entre um universo de aplicativos e plataformas, o professor Amorim sugere ainda o Flipboard, onde o aluno pode fazer a sua própria revista e guardar, para pesquisas futuras.

“Nesse aplicativo o aluno faz um trabalho de pesquisa, como por exemplo um levantamento sobre como funciona coleta de lixo, da água, falam sobre poluição atmosférica. Os temas ambientais, a gente trata a partir da revista, que são compartilháveis entre os alunos. Um ajuda o outro a estudar. O aluno pode convidar o outro como leitor ou colaborador”, conta empolgado.

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Aplicativos do Google For Education

Gmail
É um sistema de e-mail que permite a inscrição dos usuários nos demais aplicativos.

Google Drive
Utilizado para o armazenamento e organização de tarefas, simulados, documentos ou listas dos cursos. Pode ser acessado com segurança de qualquer dispositivo.

Google Sala de Aula (ou Google Classroom)
O aplicativo ajuda alunos e professores a organizar as tarefas, aumentar a colaboração e melhorar a comunicação. Com ele, os professores podem criar turmas, distribuir tarefas, dar notas, enviar feedbacks e ver tudo em um único lugar.

Google Agenda
Aplicativo que permite o compartilhamento de agendas ou criação de uma junto com os membros da sua turma ou instituição para não perder as programações.

Planilhas Google
Permite a colaboração, compartilhamento e feedback de trabalhos junto com os alunos em tempo real, através de documentos, planilhas e apresentações.

Google Formulários
Usado para criar formulários, testes e pesquisas para coletar e analisar respostas. Os professores criam simulados no aplicativo e os alunos respondem.

Google Jamboard
Permite que o usuário desenhe e colabore em uma tela interativa com o Jamboard, o smartboard baseado em nuvem do Google, no computador, smartphone ou tablet.

Google Sites
Uma ferramenta de criação da Web fácil de usar para criar sites, hospedar ementas de cursos, promover habilidades de desenvolvimento e liberar a criatividade dos alunos.

Google Hangouts Meet
Para que o professor se conecte aos alunos virtualmente usando videochamadas e mensagens seguras para que o aprendizado continue fora da escola.

Google Groups
Pode ser usado para criar e participar de fóruns da turma para incentivar a comunicação e a conversa.

Google Vault
O professor pode adicionar alunos, gerenciar dispositivos e definir a segurança e as configurações para que seus dados fiquem protegidos.

 

Fonte: Correio*