Câmara realiza Sessão Especial em alusão ao Dia Internacional da Luta Antimanicomial
O Dia da Luta Antimanicomial acontece anualmente em 18 de maio e tem como objetivo defender o atendimento humanizado e a liberdade das pessoas com sofrimentos mentais, demandando, dentre outras coisas, o fim dos manicômios e a criação de políticas públicas acolhedoras e eficientes. Essa é a base da Lei No 10.216/2001, nomeada “Lei Paulo Delgado”, que visa redirecionar o modelo de assistência atual.
Em alusão a esta data, nesta quarta-feira (15/06), aconteceu a Sessão Especial do Dia da Luta Antimanicomial, requerida pelo vereador Gilvan Souza (PSDB). A atividade tratou sobre o panorama da saúde mental no município de Camaçari, sob a perspectiva dos usuários e suas experiências na rede pública.
Lilian Roberta Lacerda de Santana, usuária do Caps Orla, destacou em sua fala a importância do acolhimento prestado pela equipe do Caps. “Só tenho a agradecer pelo apoio. Eu era gerente financeira, tive depressão e acabei perdendo tudo. Fiquei só com meu filho, que foi diagnosticado com autismo e o suporte dos profissionais foi fundamental para que eu pudesse me estabilizar novamente. Nem sempre há apoio familiar, as pessoas costumam diminuir a dor causada pela depressão, então precisamos fortalecer a rede Caps para que o atendimento humanizado alcance a todos que necessitam”, afirmou.
Na sequência, Francisca Santiago falou sobre sua experiência enquanto familiar de um usuário do Caps Infantil. “Eu não tinha apoio de ninguém, já recebi recusa de matrícula do meu filho em uma escola porque ele era violento demais e eu não sabia o que fazer, só chorava. Somente quando conheci o Caps consegui me reestruturar e ajudar o meu filho. O Caps precisa ser fortalecido porque existem muitas mães sofrendo, sem saber o que fazer. Não queremos apenas medicar nossos filhos, queremos que eles tenham qualidade de vida”, relatou.
Na oportunidade, o vereador Gilvan Souza (PSDB), anunciou que o município pretende contratar 50 cuidadores para a Rede Pública Municipal de Ensino e fez também um relato sobre sua experiência pessoal. “Tenho um filho autista e sinto na pele a dificuldade de encontrar profissionais. Por isso, precisamos cobrar constantemente a melhoria. Devemos fortalecer as políticas públicas, mas precisamos também estudar o contexto familiar que influencia diretamente no suporte destas pessoas”, defendeu.
A psicóloga do Caps Ad, Carla Geline, representando os trabalhadores da unidade, corroborou a fala do parlamentar ao afirmar que o trabalho intersetorial é essencial para um tratamento efetivo nos Caps. “Nos serviços de saúde mental, a liberdade é terapêutica. Não existe luta antimanicomial sem garantia dos direitos humanos, então precisamos abrir campos de diálogo nesse sentido no município de acordo com a necessidade da população”, pontuou.
Adelmir Teixeira deu seu depoimento acerca do seu tratamento na rede. “O Caps tem o poder de despertar a confiança no usuário. Eu não confiava em ninguém, mas através das oficinas terapêuticas e do cuidado recebido consegui me reerguer. Hoje sou empresário e agradeço muito ao Caps pelo apoio”, contou.
Em seguida, Márcia Cosme de Souza, Subcoordenadora de Saúde Mental, apresentou dados sobre o serviço prestado no município e reforçou a importância do trabalho intersetorial e do acolhimento das pessoas com transtornos mentais, que têm o direito de receber um cuidado baseado na liberdade. “Muitas vezes olhamos para uma pessoa desorganizada mentalmente e achamos que vai ser assim durante toda a sua vida, mas isso não é verdade. Com os devidos cuidados, estas pessoas recuperam a autonomia sobre suas vidas. O Caps é o espaço para fazermos uso quando já se está adoecido, mas precisamos de políticas públicas que forneçam trabalho, lazer, cultura e todas as demais necessidades básicas para evitar adoecimentos em nossa sociedade. A visão manicomial não aceita o diferente, por isso lutamos contra ela tão firmemente. As diferenças precisam ser respeitadas em todos os espaços”, concluiu.