Estudantes dizem valer a pena ônus do Fies; inscrições começam amanhã
Financiar o primeiro carro ou, quem sabe, dar entrada na casa própria para se tornar menos dependente dos pais. Esses são planos comuns entre aqueles que acabam de concluir o ensino superior. Mas para quem começou a vida adulta investindo no financiamento da educação em uma faculdade particular, é preciso pensar duas vezes.
O estudante de Medicina Vinicius Mota, 25 anos, por exemplo, já tem um saldo devedor de R$ 240 mil com o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que abre inscrição amanhã. “O pessoal da turma que tem Fies brinca quando alguém está planejando comprar um apartamento ou carro: ‘se lembre que você tem o Fies para pagar’”, cita.
O Fies é o programa que dá aquela força no pagamento da mensalidade de instituições particulares – diferente do Sisu, que é o sistema que seleciona os estudantes para as vagas de instituições públicas, e do Prouni, que concede bolsas de estudo parciais ou integrais em instituições particulares.
No caso do Fies, que cobre parte ou o valor total das mensalidades, o estudante faz o curso e, só depois de formado, começa a quitar a dívida, com juros mais baixos do que os do mercado. Nos últimos dez anos, já foram realizados quase 150 mil contratos do Fies na Bahia.
Vale a pena
O sonho de Vinicius era estudar Medicina e ele decidiu apostar em um curso numa instituição privada. Quando garantiu a vaga, faltava condições para arcar com a mensalidade de R$ 2.996 (atualmente R$ 4.222).
Hoje no 11º semestre de Medicina na Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), Vinicius tem 100% do curso financiado pelo governo federal, com a responsabilidade de pagar o valor após a formação. Ele não se arrepende.
“Caso a pessoa não tenha como pagar e não consiga mesmo uma vaga em faculdade pública, o Fies vale a pena sim, já que são os juros mais baixos. Em contrapartida, ao final do curso você já começa a carreira profissional com uma dívida considerável”, pondera.
Atualmente, a taxa de juros do Fies é de 6,5% ao ano. No ano passado, o Ministério da Educação anunciou mudanças nas regras do financiamento para os contratos assinados a partir do segundo semestre de 2015, como a taxa de juros. Antes, até outubro de 2006, era de 9%. Depois, até agosto de 2009, passou a ficar entre 3,5% e 6,5%. Em março de 2010, passaram a 3,4%.
Vale a pena
Aos 17 anos, quando começou o curso de Biomedicina, Fernanda Carvalho, hoje com 28, se assustou com a ideia de contrair uma dívida de cerca de R$ 45 mil, correspondente ao financiamento de 50% do valor do curso. “Tinha medo e até hoje eu fico pensando: poxa, ainda vou terminar de pagar só em 2018”, diz.
As condições de pagamento, porém, estão aí para tranquilizar os estudantes. “Você tem o triplo de tempo do curso para pagar. No meu caso o curso é de 6 anos, vou ter 18 para pagar”, exemplifica Vinicius. Até 2010, o prazo era de duas vezes a duração do curso.
Fernanda explica que quando terminou o curso passou um ano pagando R$ 500, valor que era de amortização dos juros do financiamento. O montante era equivalente ao da outra metade da mensalidade não financiada.
“Esse valor vai diminuindo. Hoje pago R$ 354,42 por mês. Quando terminei o curso, tinha outras ambições, de fazer uma pós-graduação, então isso me preocupou, mas eu entendi tudo isso como um investimento”, afirma.
Fernanda hoje trabalha como operadora de ressonância magnética. A dica dela para quem vai contratar o Fies é ficar atento sempre aos prazos de renovação, que se forem perdidos podem dar muita dor de cabeça.
Qualidade acadêmica
Presidente da Associação Baiana de Mantenedores do Ensino Superior (Abames), Carlos Joel Pereira acredita que o programa não só dá segurança e possibilidade das instituições privadas fazerem planejamento.
“Com o Fies, o estudante tem a tranquilidade de focar no estudo sem precisar se preocupar se vai ter como pagar a faculdade no final do mês e isso aumenta a qualidade acadêmica”, acredita.
A crítica da Abames ao programa é a implantação do sistema de seleção aos moldes do Sisu, através do site.
“Até 2014, o Fies funcionou de forma plena, as instituições intervieram no processo de seleção. Hoje, a forma como está sendo feito dificulta a comunicação com o estudante e tem deixado vagas sem ser preenchidas”, cita.
Inadimplência
No início do mês, o ministro da Educação Aloizio Mercadante afirmou que a solução para o pagamento de contratos atrasados do Fies é cobrar a dívida do fiador.
Atualmente, cerca de 370,9 mil contratos de financiamento encontram-se na fase de amortização, considerando o total de financiamentos desde 1999.
MEC ainda não divulgou número de contratos que serão oferecidos
O número de contratos de financiamento que serão ofertados este semestre ainda não foi divulgado, o que preocupa estudantes diante de cortes e readequações do orçamento da pasta da educação.
No primeiro semestre de 2015, foram firmados, segundo o MEC, 16.841 contratos na Bahia.
De acordo com a Associação Baiana de Mantenedores do Ensino Superior (Abames), que representa as instituições particulares, a expectativa do setor é que em todo o ano de 2016 sejam oferecidos cerca de 300 mil contratos. No ano passado, foram celebrados 313,9 mil contratos de financiamento.
Em Salvador, 34 instituições baianas aparecem na relação de autorizadas pelo MEC para oferecerem bolsas através do Fies. Anualmente, as instituições interessadas são verificadas pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior.
Fonte: Correio*