Grupo brasileiro estuda fatores ambientais relacionados ao câncer
No ano passado, a organização Cancer Research UK selecionou sete grandes desafios a serem superados em relação ao câncer no mundo, em uma iniciativa chamada Grand Challenge. Nesta semana, a entidade britânica anunciou a escolha de quatro grupos de pesquisadores que se lançarão numa grande corrida científica para resolver esses problemas pelos próximos cinco anos. Cada equipe receberá um prêmio de 20 milhões de libras para conduzir a pesquisa.
Instituições brasileiras fazem parte de um dos grupos selecionados: o Instituto Nacional de Câncer (Inca) , o Hospital de Câncer de Barretos e o A.C. Camargo Cancer Center trabalharão no projeto “identificando causas do câncer que podem ser prevenidas”.
Já se sabe que tabaco, álcool, HPV e exposição excessiva à luz solar, por exemplo, aumentam o risco de câncer: essas são algumas causas de câncer passíveis de prevenção já conhecidas. Esses agentes cancerígenos danificam o DNA das células, levando a mutações que seguem padrões distintos de acordo com cada agente. Ou seja, a célula do câncer que é associado à exposição solar tem um perfil mutacional diferente da célula do câncer associado ao tabaco.
Atualmente, cientistas já identificaram cerca de 50 perfis mutacionais associados ao câncer. O problema é que eles não sabem quais fatores externos causam a metade dessas mutações. O objetivo do projeto é justamente identificar quais fatores ambientais e comportamentais estão levando a esses perfis mutacionais que, por enquanto, têm causas desconhecidas.
O projeto que envolve as três instituições brasileiras é liderado pelo cientista Mike Stratton, diretor do Wellcome Trust Sanger Institute, instituição focada no estudo do genoma para a melhora da saúde humana.
5 mil pacientes
Para atingir seu objetivo, o estudo fará o sequenciamento do DNA dos tumores de 5 mil pacientes com câncer de pâncreas, rim, esôfago e intestino de todos os cinco continentes. Além disso, os pacientes responderão a questionários epidemiológicos, que abordarão hábitos alimentares, se viveram em áreas com exposição a carcinógenos, se já foram contaminados por algum vírus, entre outras questões.
No Brasil, 900 pacientes serão recrutados e terão amostras e informações coletadas por A.C Camargo Cancer Center, Hospital de Câncer de Barretos e Inca.
A cientista Vilma Regina Martins, superintendente de pesquisa do A.C.Camargo, explica que os tumores avaliados pelo estudo têm incidência diferente em locais diferentes do planeta. “Quando se tem um tumor com esse perfil, entende-se que há alguma coisa naquele local associada com o aumento ou a diminuição de risco. Entende-se que podem haver causas genéticas na população e também fatores ambientais de cada uma das regiões”, afirma.
Associando-se a análise genética à análise de hábitos e fatores externos aos quais os pacientes são expostos, os cientistas esperam ligar cada perfil mutacional à sua respectiva causa. “O principal objetivo de nosso Grand Challenge é entender as causas do câncer. Cada câncer detém um vestígio arqueológico, um registro em seu DNA do que o causou. É este registro que queremos explorar para descobrir o que causou aquele câncer”, afirmou Mike Stratton em comunicado.
Vilma observa que a principal meta do estudo é possibilitar novas formas de prevenção, mas que, dependendo dos resultados, também podem surgir pesquisas que resultem em novos tratamentos para a doença.
Os sete desafios selecionados pela Cancer Research UK são:
- Desenvolvimento de vacinas para prevenir cânceres não relacionados a vírus
- Erradicar cânceres relacionados ao vírus Epstein-Barr do mundo
- Descobrir como perfis mutacionais incomuns são induzidos por diferentes eventos relacionados ao câncer
- Fazer a distinção entre cânceres letais que precisam de tratamento e cânceres não-letais que não precisam
- Descobrir um modo de mapear tumores em nível molecular e celular
- Desenvolver métodos que tenham como alvo o gene Myc, que é mutado na maioria dos cânceres humanos
- Descobrir como liberar macromoléculas biologicamente ativas em qualquer célula do corpo humano para tratar o câncer de forma efetiva
A pesquisa do qual o Brasil faz parte se enquadra principalmente no desafio 3. As outras três equipes de pesquisa selecionadas para receberem os 20 milhões de libras focarão em criar mapas de realidade virtual de tumores; desenvolver estratégias para evitar tratamentos de câncer de mama desnecessários e estudar o metabolismo do tumor a partir de diversos ângulos.
Fonte: G1