Importância da luta antimanicomial é foco de sessão especial na Câmara de Camaçari
O dia 18 de maio é marcado pela comemoração do Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Para marcar a data e reforçar a importância do movimento, a Câmara de Camaçari realizou, na tarde desta terça-feira (28/05), uma sessão especial que reuniu especialistas e usuários dos serviços de atendimento psicossocial.
Realizada por iniciativa do vereador Dr. Elias Natan (PSDB), a sessão trouxe informações e detalhes sobre mudanças trazidas pela reforma psiquiátrica e pelo movimento da luta antimanicomial no que diz respeito ao tratamento de pessoas com sofrimento mental e aos usuários de álcool e outras drogas. “Discutir, conscientizar sobre os direitos das pessoas com sofrimento mental. Essa é nossa intenção. Às vezes, essas pessoas eram submetidas a tratamentos não científicos, a torturas, eram excluídas da sociedade, medicadas excessivamente e isso precisava mudar com urgência. Hoje a realidade é diferente, pois há esse movimento de inclusão e de garantir os direitos e a cidadania dessas pessoas”, destacou o parlamentar.
A sessão contou com depoimentos de usuários do sistema de saúde mental existente no município, dentre eles o de Júlia Evelin, usuária do Caps i, que destacou o acolhimento que recebeu na unidade. “Encontrei um ninho no Caps. Lá todos me ajudam com o que eu preciso para enfrentar o mundo que vivemos”, afirmou. Por sua vez, Maria de Lourdes, usuária do Caps da orla, contou que faz tratamento há 16 anos para bipolaridade e que a luta antimanicomial foi fundamental para garantir o respeito a quem tem algum tipo de sofrimento mental.
“Os hospícios eram depósitos de pessoas que a sociedade achava que não serviam mais. Os maridos deixavam as esposas que não tinham mais interesse, as pessoas com depressão eram despejadas lá. Hoje o cenário é diferente e precisamos lutar para cada vez mais garantir os direitos. A luta continua, por exemplo, em favor dos usuários em vulnerabilidade social. Muitas vezes essas pessoas utilizam medicamentos e precisam se alimentar bem, por exemplo”, citou.
A representante da Secretaria de Assistência Social do Governo do Estado, Luiza Saad, fez um breve apanhado sobre a relação entre o uso de drogas e suas interferências na saúde mental. “O processo de criminalização das drogas surge dentro de um movimento de higienização da população considerada doente, de construção de uma nação livre de pessoas degeneradas. É nesse momento que começam a acontecer as internações compulsórias e práticas abusivas de tratamento dessas pessoas. Uma ferramenta de controle social de pessoas que não eram bem vistas no Brasil”, explicou. Em contrapartida, ela citou que segue viva a luta antimanicomial, a redução de danos, o tratamento dessas pessoas com liberdade e através do foco no sujeito e não na droga em si.
O secretário municipal da Saúde, Luiz Duplat, também contou sobre sua experiência na área e reforçou a importância de combater a ideia de que se deve isolar a pessoa com sofrimento mental em nome de pretensos tratamentos, ideia baseada apenas nos preconceitos que cercam a doença mental. “Vivi muitas experiências no Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, em Salvador, e vi absurdos que eram considerados normais. Mas isso mudou. Hoje há uma relação muito mais respeitosa, acolhedora e isso é resultado dessa reforma psiquiátrica tão importante de ser defendida aqui”, contou. Ele também falou sobre o que é oferecido pela rede municipal e os desafios enfrentados. “O grande desafio é combater o retrocesso diariamente”, cravou.
A subcoordenadora municipal de Saúde Mental e Pessoa com Deficiência, Márcia Cosme, parabenizou a Câmara pela iniciativa de debater o tema e trouxe alguns relatos e reflexões. “Temos muitos desafios no que diz respeito à atenção à saúde mental. É angustiante não conseguir dar uma resposta como gostaríamos, especialmente porque não somos negligentes. Ao contrário, somos responsáveis e precisamos ter as condições de trabalho para oferecer um atendimento adequado e sempre vigilante. Estamos aqui para ouvir no que é possível melhorar para que possamos consolidar a reforma psiquiátrica e acolher essas pessoas com sofrimentos mentais”, concluiu.