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Primeiros baianos são vacinados contra covid-19 em Salvador

Há 313 dias esperávamos por esse momento. A pandemia foi decretada pela Organização Mundial da Saúde em 11 de março de 2020. Desde então, apenas uma pergunta importava. Dos textos acadêmicos aos memes da internet, do Vale do São Francisco ao Extremo Sul da Bahia, da Praia do Flamengo a São Tomé de Paripe. Nas missas, nos cultos e nos terreiros a interrogação era a mesma. Até que nesse dia 19 de janeiro, numa manhã ensolarada de terça-feira, podemos dizer: a vacinação começou!

Depois de uma segunda-feira tumultuada com o horário do desembarque das 376 mil doses da Bahia (42 mil de Salvador) alternando entre o início da manhã e altas horas da noite, elas chegaram para a alegria e o alívio de todos. E a vacinação começou por nada mais nada menos que o espaço criado e mantido por Santa Dulce dos Pobres. Os idosos das Obras Sociais Irmã Dulce foram os primeiros a serem imunizados, e o sorriso era tão grande que dava para ver até mesmo por trás da máscara.

O dia amanheceu com movimento aparentemente calmo na Cidade Baixa, mas essa tranquilidade foi mudando ainda nas primeiras horas da manhã. A presença dos repórteres atraiu a atenção de curiosos, e todos pararam a rotina por um instante para observar de longe, ou mais de pertinho, espreitando através de uma grade, de um muro ou de uma porta entre aberta o que estava acontecendo. Parecia que todos ali esperavam pela noiva na igreja no dia do casamento. Até que às 7h10 ela chegou.

Coronavac é o nome dela. Não que isso importe muito. A eficácia da vacina sempre foi a prioridade independentemente da origem do medicamento, ao menos foi o que sempre afirmaram as autoridades baianas. A vacinação aconteceu dentro do santuário de Santa Dulce, e a primeira pessoa imunizada foi a enfermeira Maria Angélica de Carvalho, 53 anos, que trabalha no Hospital Couto Maia.

“É um momento de gratidão a Deus e a todos os profissionais que contribuíram para esse momento”, disse Maria Angélica.

A idosa Lícia Pereira Santos ressaltou a alegria do momento. “Me sinto muito feliz de ter sido convidada. É um momento de alegria”, disse.

Quem também foi vacinado foi o médico socorrista do Samu Wenderson Barbosa, que ressaltou a luta de trabalhar na pandemia. “O mais difícil é lidar com o distanciamento dos nossos próprios familiares. Com a vacina, espero que tudo isso mude. Sem tirar todas as medidas de precaução, mas muito mais fortalecido para enfrentar tudo isso”, disse. Uma representante indígena também participou da solenidade e foi vacinada.

Autoridades
O governador, Rui Costa (PT), e o prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), chegaram cedo. Eles destacaram a importância da vacinação e disseram que aguardam novas remessas das vacinas.

“Salvador precisa de 168 mil doses na primeira fase, chegaram 42 mil. Nós aqui estamos adotando a estratégia de aplicar somente metade das vacinas que chegam para garantir que as pessoas recebam a segunda dose. Com isso iremos imunizar pouco mais de 21 mil pessoas. Não adianta as pessoas irem para posto de saúde e hospitais, pois ainda não há vacina em hospitais”, explicou o prefeito.

A dificuldade de manter a campanha de imunização, segundo Reis, é ter quantidade suficiente de doses. “Nosso problema aqui não são insumos, profissionais, logística, armazenamento e estrutura, o problema é o fornecimento da vacina. Desde que assumi a prefeitura no dia 1º de janeiro a palavra de ordem foi o enfrentamento da pandemia, primeiro porque vamos salvar milhares de vidas e depois reestabelecer a parte econômica e social, para retornarmos à nossa rotina de normalidade”, completou.

O governador Rui Costa falou que hoje é um dia de esperança. “É uma emoção grande, uma luta, quase 1 ano nesse sofrimento e hoje, como trabalhamos muito ao longo desses meses, começamos a ver a luz no final do túnel. Ainda é uma longa caminhada, ainda não tem vacinas para todo mundo. Estamos tentando conseguir autorização junto ao STF para a Sputnik. Espero que a Justiça ajude a acelerar a vacinação. É mais uma vacina disponível para garantir a imunização das pessoas”, afirmou.

Ele falou ainda sobre as dificuldades para a aquisição de doses. “Não tem espaço para uma negociação com o Butantan, visto que o Ministério da Saúde requisitou todas as vacinas. O que estamos buscando é a vacina russa. Somos 15 milhões de pessoas, precisamos de 30 milhões de vacinas para aplicar as duas doses. Nesse primeiro lote, de 376 mil, não conseguiremos sequer vacinar as pessoas da área de saúde, que são quase 400 mil pessoas”, afirmou.

As 42 mil doses da Coronavac enviadas pelo Governo Federal são suficientes para proteger cerca de 21 mil pessoas em Salvador, uma vez que o imunizante prevê uma dose de reforço após 14 dias da primeira aplicação. Para essa primeira remessa, está previsto a imunização dos idosos abrigados em instituições de longa permanência, trabalhadores da saúde que atuam na rede de urgência e assistência direta aos pacientes com o novo coronavírus (UPAs, Gripários, Samu 192) e hospitais, incluindo os de campanha.

A estratégia utilizada para essa primeira remessa será através de 11 equipes volantes nos próprios locais selecionados. Por isso, a população não deve se direcionar a nenhum ponto de vacinação neste momento. A programação segue recomendação de informe técnico emitido pelo Ministério da Saúde.

Um cronograma será construído diariamente na capital, de acordo com a disponibilidade de vacinas. A cada nova remessa encaminhada ao município, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) ampliará a imunização dos grupos prioritários.

Vacina
Desenvolvida através de uma parceria entre a farmacêutica chinesa Sinovac e o laboratório brasileiro do Instituto Butantan, a CoronaVac foi alvo de uma queda de braço entre o Governo Federal, outras autoridades públicas e a cientistas, até que a novela chegou ao fim no domingo (17) com a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso da medicação em todo o país.

A eficácia dela é de 100% para casos graves, 78% para casos leves e de 50% de maneira global. A chegada da vacina em janeiro, quase um ano depois do início desse pesadelo, traz uma esperança em dias melhores ao mesmo tempo que faz refletir sobre o desenrolar dessa caminhada, e essa sensação pode não ser por acaso.
Na mitologia romana existia um Deus de nome Jano que era responsável pelas mudanças. Ele é representado por duas faces que olham em direções opostas, observando ao mesmo tempo o passado e o futuro. Foi da derivação do nome dele que surgiu Janeiro, o mês das transformações.

Fonte: Correio*